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(imagem retirada de http://vidaseverdades.blogspot.com.br) |
Observando queixas de alunos e suas rotinas de estudo, tenho me empenhado em conversar, no intuito de desenvolver a conscientização sobre os riscos da atividade pianística.
Confesso que a questão somente passou a ter a devida importância após acometer a mim mesma, e por isso, passo a descrever resumidamente o meu próprio caso:
Pianista profissional com longos anos de experiência, me descuidei, relaxando em relação à manutenção de uma atividade física. Após alguns anos, comecei a sentir uma espécie de queimor ocasional nos músculos das costas (lateral direita).
Uma vez... Duas vezes... Assim que notei que os espaços entre os queimores estavam diminuindo procurei ajuda médica Infelizmente, por mais que se tenha um bom plano de saúde, e a indicação de médicos, passei dois anos sendo acompanhada por ortopedistas que apenas diziam ser um problema muscular. A conduta era sempre a mesma - remédios (ou injeção no músculo), fisioterapia e a indicação de ir para a academia fazer musculação após passar o queimor.
Como o queimor diminuía com os remédios, mas não era eliminado totalmente, concluí (por conta própria) que não devia "ir pra academia", com medo de piorar a sensação.
Troquei de médico várias vezes... Os queimores viraram dores... Eu mesma solicitei uma ressonância magnética e recebi o parecer que nada havia na minha coluna que pudesse causar os transtornos.
Finalmente, com um súbito aumento da atividade pianística, todos os músculos do lado direito das costas literalmente travaram! Dores insuportáveis (até pra quem, como eu, tem um limiar alto de dor) e incapacitantes de qualquer atividade com o braço direito (não só a pianística)!
Mais uma troca de médico, desta vez de forma urgente, e a constatação de que, pela falta de atividade física por vários anos, os músculos tornaram-se fracos para a exigência da atividade pianística, acrescida da atividade como regente. Essa fraqueza muscular não segurou a coluna no lugar certo, por isso, haviam, sim, alterações que contribuíam para o desenvolvimento do quadro - retificação na cervical, protusão discal, curvatura contrária nas últimas vértebras. Segundo o novo especialista médico, minha coluna havia se moldado à minha postura como pianista (sempre sentada e ereta), e se eu houvesse obedecido as recomendações anteriores e estivesse tentando fortalecer a musculatura em uma academia, a situação teria se agravado muito mais.
Desde então, há dois anos, venho passando por um processo lento de reabilitação, ainda não completo, que incluiu ou inclui:
- remédios (em um primeiro momento);
- fisioterapia de analgesia;
- acupuntura;
- RPG (técnica fisioterápica de reeducação postural global);
- Pilates (exercício físico baseado na respiração, equilíbrio, alongamento e desenvolvimento do tônus).
Houve alguns meses que precisei parar com todas as minhas atividades... No momento de maior crise pensei que jamais teria condições de tocar novamente... Mesmo com os anos que perdi sendo mal orientada e a situação agravada, os tratamentos tem trazido evolução.
Muita paciência é necessária - somente em novembro de 2013 fui liberada para começar uma atividade física, o Pilates, mas apenas uma vez por semana, com as cargas mais leves, que o corpo vá se fortalecendo sem agravar o quadro já instalado.
Muitas mudanças foram necessárias - de pensamento, de atitude, de rotina, de consciência! Por isso, esse relato deve servir para reflexão, fomentando uma autoavaliação de sua atividade pianística e de toda a sua condição física, seja como aluno, seja como profissional.
Com os devidos ajustes e cuidados, eu continuo pianista. Graças a Deus, pois não saberia viver sem o meu piano! Mas o fim desse relato poderia ser diferente...
Reflexão e autoavaliação - o primeiro passo!